Bolsonaro é um defensor da transparência. Para os outros. Às voltas com perversões em que são desviadas verbas de um orçamento secreto, achou que seria uma boa ideia decretar o sigilo sobre os encontros que manteve no Planalto com os pastores que achacavam prefeitos no MEC.
Num escândalo em que a voz de um ministro soa numa gravação atribuindo o pastoreio nos cofres da Educação a um "pedido especial" do presidente da República, o segredo vale como confissão de culpa.
Todo orçamento de R$ 55 bilhões que Bolsonaro entregou ao centrão no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação não daria para vestir a desculpa esfarrapada que o chefe da Segurança Institucional, general Augusto Heleno, inventou.
Valendo-se da Lei de Acesso à Informação, o jornal O Globo solicitou ao planalto os dados sobre as visitas dos pastores lobistas Arilton Moura e Gilmar Santos a Bolsonaro. O gabinete do general Heleno disse que o pedido não pode ser atendido porque a divulgação das informações colocaria em risco a segurança do presidente e dos seus familiares.
Quer dizer: na versão do general, a revelação de encontros mantidos com um par de interlocutores evangélicos na sede do governo, em horário de trabalho, constitui um risco à integridade física de Bolsonaro e de todo o clã presidencial. A alegação é intrigante, preocupante e desmoralizante.
A desculpa intriga porque revela a presença no Planalto de um general que confunde jornalismo com terrorismo.
Preocupa porque passa a impressão de que a segurança da principal autoridade do país está entregue a um gabinete de aloprados.
Desmoraliza porque sinaliza que o discurso segundo o qual Bolsonaro comanda um governo sem corrupção não resiste a uma análise da agenda de compromissos do presidente.
O comportamento do Planalto não orna com a moralidade. Não combina nem mesmo com o versículo multiuso que Bolsonaro extraiu do Evangelho de João —"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". O presidente está preso à verdade por grilhões de barbante.
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