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O fim do mundo, embora tão discreto

O fim do mundo prega o discurso livre, exige a liberdade de destruir em palavras o outro, a verdade, a razão, a justiça.

25/01/2025 às 08h52
Por: Redação RI Fonte: Por Julián Fuks | Ecoa
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O presidente dos EUA, Donald Trump, dança enquanto ele e a primeira-dama, Melania Trump, chegam à arena Capital One, em Washington, nos EUA. | Imagem: REUTERS/Brian Snyder
O presidente dos EUA, Donald Trump, dança enquanto ele e a primeira-dama, Melania Trump, chegam à arena Capital One, em Washington, nos EUA. | Imagem: REUTERS/Brian Snyder

Parece até absurdo reputá-lo discreto: o fim do mundo tem cútis laranja e cabelos de labareda. Quando fala, sua cabeça pende, suas sobrancelhas se arqueiam, seus lábios se franzem, seu rosto inteiro se contorce numa careta. O fim do mundo insulta, esbraveja, protesta, faz bravatas estapafúrdias, mente. Mas parece que todos aprendemos a ouvi-lo com alguma fleuma e no instante seguinte esquecê-lo. O fim do mundo já não nos concerne.

O fim do mundo foi eleito democraticamente, embora não tenha pela democracia nenhum apreço — quando perdeu, tratou de destruir o mesmo prédio onde celebrou sua posse desta vez. O fim do mundo quer passar como defensor da paz, e se arvora de costurar acordos que nada devem a ele.

O fim do mundo inventa inimigos inexistentes, internos e externos, e inventa maneiras esdrúxulas de irritar cada um deles. O fim do mundo quer tomar para si a maior ilha do planeta, quer mudar o nome dos golfos, quer controlar a passagem entre os oceanos. O fim do mundo é um provocador barato, que nos causa riso quando deveria causar repulsa.

O fim do mundo prega o discurso livre, exige a liberdade de destruir em palavras o outro, a verdade, a razão, a justiça. O fim do mundo se incomoda quando não pode difundir ao máximo seu discurso de perseguição e ódio. O fim do mundo tem um porta-voz bizarro, que faz saudação nazista fingindo que é afago no coração.

O fim do mundo se finge de decisão protocolar. Apenas retira sua assinatura de um acordo internacional, e com isso ganha leveza para continuar a exercer seus prazeres de fim de mundo. Explora, consome, queima, calcina. O fim do mundo não sente calor nenhum, não vê mais que acaso em tempestades, inundações, incêndios, tufões. O fim do mundo não acredita no fim do mundo.

Tentaram matar o fim do mundo. Acreditaram que poderiam matá-lo com um tiro, acertaram de raspão sua orelha. Discutiu-se com razão a brutalidade insana com que um homem quis se livrar do problema. Todos vimos como ainda é eficiente, como se mantém em forma o fim do mundo no nosso século. Em todo caso, é bem evidente que um tiro certeiro causaria apenas a morte trágica de um homem, e não o fim do fim do mundo.

O fim do mundo é uma notícia velha, a mesma notícia de uns anos atrás, a mesma notícia em tantos países. Ninguém aguenta mais que se fale em fim do mundo. O fim do mundo empalidece diante do futebol, do cinema, da literatura em seus flagrantes escândalos. Não é de todo injusto: a vida importa mais que o fim do mundo. O fim do mundo já não provoca a comoção que provocou um dia.

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