A falange bolsonarista deve estar arrependida de ter pressionado Alexandre de Moraes a levantar o sigilo dos vídeos da delação de Mauro Cid. A única tortura exposta nas imagens é o suplício imposto à plateia. O país é submetido a uma nudez que ninguém pediu, que ninguém queria ver.
Cid expôs os meandros de uma Presidência obscena. Nela, um capitão expurgado do Exército por indisciplina atraiu generais que prometiam morrer pela pátria para um plano de assassinar a democracia.
Em troca do pescoço de um único general, o pai Lourena Cid, para quem pediu imunidade, o delator entregou a cabeça de todo o alto-comando daquilo que Bolsonaro chamava de "minhas Forças Armadas".
Dos 34 denunciados pela Procuradoria ao Supremo 24 são militares. Ou seja: o golpe era 70% fardado. Ironicamente, dois comandantes militares que se negaram a avalizar o golpe ecoaram Cid em depoimentos à PF, pavimentando o caminho que leva Bolsonaro à cadeia.
Na versão inanimada, transcrita em prosa e verso, a colaboração de Cid já havia consolidado a percepção de que, sob Bolsonaro, o Brasil viveu uma de suas épocas mais despidas. Mas os recortes em vídeo, expostos em telejornais e multiplicados na internet, tornaram o strip-tease explícito.
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